terça-feira, 9 de dezembro de 2014

A Identidade Construída na Pele


Os adolescentes hoje parecem querer gritar sua independência e identidade, quer tenham obtidas ambas ou nenhuma. Ao crescer em um mundo assustador e  de desafios constantes, muitos jovens lutam para transformarem-se naquilo que podem ser, mesmo que a ideia ainda seja vaga e confusa. Pesquisa recente indica que tatuar-se não só ajuda a definir uma identidade mas também a defini-la.
Embora o habito de marcar o corpo indelevelmente esteja conosco há milênios, nunca esteve tão na moda quanto agora. E olha que passamos pelos loucos anos sessenta e setenta! O número de estabelecimentos que abrigam profissionais da tatuagem vem dobrando ano a ano. Em Jundiai, tenho a impressão de encontrar um em cada esquina. Grande parte das pessoas que conheço tem uma tatuagem, de tamanhos variados. Algumas cobrem grande parte do corpo, outras ornamentam os calcanhares. Nas mulheres, é mais comum ornamentarem o cóccix, mas estão lá. De acordo com a professora da Universidade do Arkansas, Anne Velliquette, essa mania recrudescente tem explicação na facilidade com que uma pessoa pode recriar sua própria identidade, tanto no mundo virtual, quanto no real. E reinventar-se é cada vez mais atrativo quando o que está a sua volta é fragmentario e inconstante. No final dos anos noventa, Anne conduziu uma pesquisa junto a adolescentes que usavam tatuagem para afirmar o que sentiam e como se sentiam. O que ela descobriu foi uma tentativa desesperada de definir-se em meio o caos reinante. Refazendo a pesquisa quase uma década depois, ela encontrou o mesmo resultado, somado à ideia da nostalgia, isto é, as tatuagens também refletiam sentimentos passados.
Uma leitura que ajuda entender esse aspecto do nosso tempo é Identidade ,  de Zygmunt Baumann, livro no qual o autor descortina uma realidade sem ancoras concretas para o "eu-no-mundo". Nas palavras do professor Baumann, há um constante deslocamento de identidades
 que faz a pessoa "não estar totalmente em lugar algum" e que o preço a ser pago é " a aceitação de que em nenhum lugar vai se estar totalmente e plenamente em casa". Em suma, resume o sociólogo, nada é seguro e sólido e "todas as coisas são líquidas e correm por entre os dedos. " Em um clima de mudanças imprevisíveis e rápidas, qualquer coisa , por mais banal que seja , pode significar um "eu postulo" , expressão que o estudioso polonês usa para indicar o inicio da construção de si mesmo. Uma figura plasmada na pele pode ser o caminho para alcançar o estranhamento no outro e ai então  ser observado como um e único.  No meu tempo de criança, dizia-se que quem queria aparecer deveria pendurar uma melancia no pescoço. Parece que não basta mais!